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Notícias e EventosAnglo Itapira

Morre Ariano Suassuna24 de Julho, 2014

Esta entrevista foi concedida à Revista Nova Escola, em 2007, pelo romancista, dramaturgo e poeta, Ariano Suassuna quando dos seus 80 anos, quando se empenha para colocar em prática o projeto batizado de A Onça Malhada, a Favela e o Arraial. 

Trata-se de uma iniciativa que vai levar para os quatro cantos do estado (das periferias das cidades aos rincões do sertão) suas célebres aulas-espetáculo, palestras que há anos fascinam os brasileiros. Se o escritor já lota os auditórios por onde passa, agora ele pretende convidar o povo simples, "do Brasil real", para o escutar embaixo de uma lona de circo, acompanhado de bailarinos e músicos. "Sou um pouco ator, como todo professor deve ser", justifica o "pai" de Chicó e João Grilo, personagens de sua mais célebre obra, o Auto da Compadecida.

Formado em direito e filosofia, ele lecionou durante 32 anos na Universidade Federal de Pernambuco. Em 1999, assumiu a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras e, em 2002, foi homenageado pela escola de samba carioca Império Serrano. "Não vi diferença entre as duas honrarias", afirma. Nesta entrevista, concedida à NOVA ESCOLA no seu casarão do século 19, localizado às margens do rio Capiberibe, no Recife, o criador de histórias como O Santo e A Porca, entre tantas outras que têm o Nordeste como inspiração, fala como se tornou um grande leitor e escritor, comenta a situação da Educação brasileira e diz quais são as estratégias que usa para dar boas aulas desde os 17 anos.

Com quantos anos o senhor aprendeu a ler?
Antes de entrar para a escola, aos 7 anos, orientado pela minha mãe e por uma tia, lá no sertão de Taperoá, na Paraíba. Hoje isso é muito raro, pois as mulheres têm de trabalhar fora, não é?

O hábito da leitura vem dessa mesma época?
 Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer, leio com alegria. O meu pai, que perdi aos 3 anos de idade, deixou de herança para nós uma biblioteca fabulosa para os padrões do sertão naquela época. Tinha de tudo. Ibsen, Dostoiévski, Cervantes, Machado de Assis, Euclides da Cunha. Meus tios também viviam comprando livros em Campina Grande para eu ler. Era Eça de Queiroz, Guerra Junqueira e um título do qual me lembro muito, Dodinho, de José Lins do Rego.

Como começou a escrever?
Certo dia, eu tive uma prova de Geografia e não sabia nada. Então, resolvi dar as respostas por meio de versos. O professor quis saber quem era aquele aluno e, em vez de me dar uma bronca, me elogiou. Dias depois, ele deu um jeito de publicar no Jornal do Commercio, aqui, do Recife, um de meus poemas que havia mostrado a ele. Em 1947, eu e outro colega fundamos o Teatro do Estudante de Pernambuco, que encenava peças de nossa autoria. Nesse mesmo ano, escrevi Uma Mulher Vestida de Sol e não parei mais.

No que está trabalhando agora?
Estou concluindo o Romance d?A Pedra do Reino, lançado em 1971. Estou devendo isso aos meus leitores desde 1981.

O senhor usa o computador para escrever?
Jamais! Escrevo tudo a mão. Minha letra é muito bonita. Acho que a única função do computador foi aposentar as máquinas de datilografia, que já usei um dia. O meu genro é quem lê os originais e depois passa para o computador.

A popularização de sua obra literária se deve muito à TV. Como ela pode se tornar um aliado do professor no fomento à paixão pela leitura? A TV é um meio de comunicação no qual a oralidade predomina. Se o professor escolher boas adaptações, como a que Guel Arraes fez de O Coronel e o Lobisomem, do meu amigo José Cândido de Carvalho, exibir para os alunos e depois facilitar o acesso ao livro, eu duvido que eles não se interessem. Mas é preciso lembrar de fazer o aluno participar da aula, como se fosse um ator!

Fica a dica!